PROJETO:
REZA COTIDIANO
NOME DO SELECIONADO
MAURÍCIO SASÍ
REGIÃO:
GRANDE SÃO PAULO
Sobre o projeto:
"Uma peça-festa-celebração" é uma das definições possíveis para o espetáculo Reza Cotidiano, que faz parte do projeto Sonhei que Acordava, do coletivo Negrur4. Composto inteiramente por pessoas racializadas, em sua maioria provenientes da periferia, o coletivo traz em sua essência o festejar da vida e da cultura afro-brasileira. Também buscamos resgatar, por meio de mitos fundadores, estratégias de cura e sobrevivência que permeiam o nosso cotidiano, dialogando diretamente com o tema proposto pelo festival nesta edição.
Para a criação do processo, o coletivo se propôs a recontar itãs da mitologia iorubá, partindo da seguinte provocação: "Se os orixás caminhassem entre nós hoje, você os reconheceria?" Essas reflexões nos levaram a um diálogo entre a musicalidade brasileira e afro-diaspórica, entrelaçada com nossas vivências enquanto jovens pretos e periféricos, regidos por Obaluaiê, o senhor da cura e quem conduz a comunicação nesta obra.
No espetáculo, voltamos nosso olhar para as situações cotidianas que enfrentamos, buscando curá-las na raiz de nossas feridas. Seja os meninos/Exu curtindo um lazer no baile funk, interrompidos pela violência policial; seja pela branquitude que tenta, de todas as formas, brecar nossos caminhos; ou até quando esquecemos de celebrar a concretude dos nossos sonhos. Nestes momentos, é necessário retornar ao abraço de nossas mães/Ayabás, que cuidam de nós, lutam por nós e nos acolhem.
Reluzir essas vivências pretas e periféricas é um dos pilares do coletivo, assim como do festival, que se propõe a: “Dar voz a projetos, artistas e coletivos que evidenciam e têm como objetivo a conscientização histórica da temática do festival.”
Outro aspecto importante do nosso espetáculo é a valorização de símbolos da música brasileira, através do uso de samples, especialmente clássicos do rap, que nos conduzem por diferentes ritmos, lugares, tempos e espaços durante a apresentação. Sampleando Racionais MC’s, Dexter, Nelson Cavaquinho e o ijexá de Xangô.
Na encenação, somos preenchidos por referências negras brasileiras. Utilizamos estudos baseados na obra Ori, de Beatriz Nascimento, historiadora e poeta negra, que define para nós o conceito de "corpo transatlântico". Ela afirma que os corpos pretos brasileiros e afro-diaspóricos mantêm uma conexão umbilical com o continente africano e que só alcançarão a "libertação" das violências coloniais quando se colocarem em estado de festa e aquilombamento, transformando o corpo no próprio quilombo. Os atuantes se apropriam desse conceito para explorar a corporalidade em cena.
Além da possibilidade de troca artística dentro do tema proposto, a espacialidade do CÉU Carrão, um equipamento cultural público e gratuito localizado no centro expandido rumo à zona leste, facilita o acesso tanto do coletivo quanto do público proveniente do centro e das periferias.
Acreditamos profundamente na potência desse encontro, e que a presença do espetáculo Reza Cotidiano no Festival Ubuntu possibilita o sonho ancestral de vislumbrar novas possibilidades para o futuro.
Todos os selecionados: